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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

"Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão". Clarice Lispector.

A POSSÍVEIS LEITORES


"Este livro é como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar. Aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro nada tira de ninguém. A mim, por exemplo, o personagem G. H. foi dando pouco a pouco uma alegria difícil; mas chama-se alegria. "
C.L. *


Assim, inicia-se: A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector (1920 - 1977), que traz em seu enredo uma mulher, identificada, com todos os seres, apenas pelas iniciais G.H., que após demitir a empregada, entra em seu quarto para limpá-lo, matando uma barata esmagada na porta do guarda-roupa. Relata, assim, a perda de sua individualidade.
No dia seguinte, narra a própria impotência em descrever o episódio. 
A história se organiza em capítulos de sequência sistemática – todos os capítulos começam com a frase que encerra o anterior. A interrupção, assim, é elemento de continuidade, numa representação simbólica do que é a experiência de G.H. 
O ápice da revelação acontece na cena mais famosa do romance. A barata, após perder sua casca, expele a secreção branca que aparece como sua última essência. Estaria aí a renúncia que a personagem faz a seu próprio ser como linguagem, que, logo após o ato, entrega-se ao silêncio.



A Paixão Segundo G.H.

Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Preço: R$ 18,60
Livraria Saraiva
Acessado em 13/10/2016

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