Onde estão os Crisóstomos nesse mundo?
“Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a
tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo.”
Começa assim a obra de Valter Hugo Mãe,com várias
histórias paralelas, inicialmente independentes, mas que aos poucos se
entrelaçam. Um pescador de quarenta anos, Crisóstomo, que carrega no
peito da dor de não ser pai. Desesperado e decidido a encontrar um filho para
lhe acompanhar ao longo da sua trajetória, ele adota Camilo, um rapaz de
14 anos, filho de uma anã e de prováveis 15 homens.
A sensação de vazio diminui e ele passa a viver melhor, porém, um tempo
depois ele sente vontade de conhecer um novo sentimento: o amor. É nesse
momento que novos personagens começam a aparecer na trama, entre
eles, Isaura, uma mulher que cedeu aos prazeres da carne muito nova e
passou a vida suportando o peso da sua escolha.
Antonio, conhecido em toda aldeia como "homem maricas"
e Matilde, a mulher que carrega a culpa pelos erros cometidos com o filho
que ela tem medo de aceitar, para estar de acordo com os preceitos sociais.
Apesar de terem vivências diferentes e vidas completamente opostas,
todos estão unidos pela mesma sensação: a incompletude. Essa sensação, que
causa angústia, dor e solidão, acaba sendo a responsável por uma aproximação
entre eles, o que revela novas possibilidades, novas chances de viver e de
encontrar, mesmo que discretamente, a “felicidade”.
“O Crisóstomo explicava que o amor era uma atitude. Uma predisposição
natural para se ser a favor de outrem. É isso o amor. Uma predisposição natural
para se favorecer alguém. Ser, sem sequer se pensar, por outra pessoa."
Com uma narrativa poética, reflexiva e emocionante,
esse é um livro sobre os seres humanos, as suas imperfeições, medos, dores e
anseios. Um livro que discorre com muita sinceridade sobre a capacidade de
amar, de perdoar, de sonhar, de ser e de renascer.
O interessante é que o autor nos coloca diante de
personagens incompletos, que mesmo marcados por dores incuráveis, não conseguem
deixar de lado os preconceitos sociais. Com posicionamentos e presos a
valores morais retrógrados, todos eles precisam (re)descobrir uma nova
forma de “crescer”.
"A solidão podia transformar os homens em seres quase de fantasia
por lhes mexer na cabeça e obrigar o coração a legitimar como verdadeira a mais
pura ilusão."
Mergulhar nessa história demanda coragem e sensibilidade, ousadia e
paixão...Demanda descobrir que somos filhos de mil homens e mil mulheres...
Obra: O Filho de Mil Homens
Autor: Valter Hugo Mãe
Editora: Biblioteca Azul
Preço: R$ 35,90